30 de março de 2010

Escolas

Sem pruridos de "filosofância" nem requebros de nostalgia romântica, antes de assumindo, porque "assim vai o mundo", os condicionalismos realistas do futebol que se tornou, irreversivelmente, espectáculo-negócio, o Varzim dedica parte substancial das suas preocupações enquanto entidade desportiva, em sentido restrito, e enquanto parceiro social, em mais largo âmbito, à problemática da juventude. Palavras enfáticas? Elogio em boca própria? Nada que se pareça: trata-se, tão só, da verificação de uma constante na vida de um clube que, por idiossincrasia, quis fazer-se e manter-se como elemento polarizador e vivificador dos gostos, interesses e anseios da gente mais nova de uma zona geográfica e populacional em que, desportivamente, prepondera.

Mais terra-a-terra, é imperativo reconhecer-se que o Varzim Sport Club junta às usas naturais ambições desportivas - entra-se em qualquer desafio para tentar a vitória - uma consciência congénita de serviço. De serviço a prestar à comunidade em que, desde o dia da fundação, em 1915, a colectividade se inseriu.

Falar-se, hoje, do futebol juvenil no Varzim é, de algum modo, procurar fazer sentir a diferença. Não que o Varzim esteja, neste campo, em solitária deambulação quixotesca. Muitos clubes portugueses continuam a dedicar, felizmente, boa parte da sua atenção às camadas jovens, mas o exemplo varzinista merecerá alguma saliência por ser este um clube em que, tipicamente, sobre a boa vontade e escasseiam os recursos financeiros. Colectividade de orçamento apertado, chega a acreditar-se estarmos perante uma espécie de milagre de multiplicação. Sabendo-se o que custa, actualmente manter uma equipa profissional competitiva e visando presença nos patamares mais altos do futebol, não deixa de ser espantoso existar uma Secção Juvenil no Varzim movimentando mais de quatro centenas de atletas. O que implica, certamente, fartíssimas doses de devoção à causa e um considerável investimento. E se os devotos vão surgindo e subsistindo, por amor ao clube e espírito de sacrifício próprio, o dinheiro não cai do céu. Qual o segredo do Varzim, entre a devoção que existe e a obrigação que a si próprio o clube impões? A resposta passa por uma palavra-chave: organização.

Por isso, pode o clube ufanar-se de, na temporada futebolística de 1996/97, ter participado com oito equipas, envolvendo infantis, iniciados, juvenis e juniores, nos respectivos campeonatos, quer a nível distrital quer nacional. Os resultados foram, em termos competitivos, considerados gratificantes pelos responsáveis do Sector Juvenil do clube, designadamente, o técnico Manuel Milhazes, chefe do Departamento, regressado a funções que ocupara, com mérito, em épocas anteriores. Particularmente significativa é a circunstânia de a equipa de juniores (temporada de 1996/97) ser totalmente constituída por poveiros e "feitos" na escola varzinista.

Neste âmbito, são de uma particular pertinência as considerações do dirigente Lídio Marques expressas num pequeno artigo inserto no boletim do 6º. Torneio de Futebol Júnior Ala Arriba! (Agosto/Setembro de 1996):

"Nos últimos quinze anos, tive o raro privilégio de presidir em dez à administração do nosso clube. E, neste espaço de tempo, o futebol mudou quase radicalmente a sua estrutura, sendo inundado de legislação e métodos inovadores.

"Depois, a nossa integração no espaço económico europeu e o respeito a dar aos Tratados que compõem o seu ordenamento jurídico fizeram com que surgissem vários casos no futebol profissional, sendo o mais célebre, pela mutação que impôs à transferência de profissionais, o 'caso Bosman'. A partir desta sentença, um arrepio enorme perpassou pelos clubes profissionais da Comunidade e nada é, já, como antes.

"Daí, o repensar de novo a formação dos jovens futebolistas que assegurem de forma convincente o futuro e pleno rendimento da modalidade, estruturada em moldes profissionais. Continuar ou não a escola de formação varzinista - eis a questão.

"Nós entendemos ser necessário moderar gastos, mas não temos dúvidas de que o Varzim assume uma função social e deve entusiasmar os seus jovens à prática desportiva, quaisquer que sejam os 'casos Bosmas' (...). Acreditar no futuro é investir nos jovens - e a Póvoa e o Varzim estão de mãos dadas".

Acredita, pois, o Varzim que as suas escolas de formação representam mais do que "aumento de encargos", tronando-se um "investimento seguro". Muitos jogadores, primeiro amadores, depois profissionais, chegaram aos seniores oriundos das camadas jovens do clube. Assim como nunca foram nem são poucos os que, por valor confirmado, saíram para a representação de outro emblemas.


Neste contexto, o Torneiro "Ala Arriba!" desempenha um papel importante. Realizado pela primeira vez no Verão de 1991, atingiu a sexta edição contínua em 1996. Sempre com o intuito de animação do futebol jovem e da formação desportiva e com um espírito básico de confraternização.

Por mera curiosidade, refiram-se, pela ordem, os nomes dos seis vencedores do Torneio: Leixões (Varzim em segundo), F.C. Porto (vencedor do Sporting na final), Vitória de Guimarães (três vezes consecutivas, ganhando sucessivamente, ao F.C. Porto, ao Benfica e outra vez ao F.C. Porto). Nas seis edições, o Varzim registou o referido 2º. lugar e, ainda quatro 4ºs. lugares.

10 comentários:

Anónimo disse...

Não quero estar a ser impreciso, mas tenho ideia que o Varzim já venceu o torneio Ala Arriba. Com a equipa de jogadores juniores nascidos em 1982-1983. Será correcta esta informação ou estou mesmo equivocado?

Lobos do Mar disse...

Caro amigo, no post só diz os primeiros 6 vencedores, ou seja de 1991 a 1996.
Os seis primeiros vencedores foram:
Leixões, Porto, Guimarães 4 vezes.

Saudações Varzinistas

Anónimo disse...

"não deixa de ser espantoso existar uma Secção Juvenil no Varzim movimentando mais de quatro centenas de atletas. O que implica, certamente, fartíssimas doses de devoção à causa e um considerável investimento". Esta frase saltou me a vista porque se é que um dia foi verdade ja não se aplica aos dias de hoje visto que não se pagam aos treinadores e massagistas, não há equipamento para treino (em condições)não há carrinhas para transportes e não se faz a manutenção do campo de treinos. SO quero ver como vai ficar a formação para a proxima epoca com a debandada de treinadores e massagistas que ja se ouve que vai haver. Vamos retroceder 20 anos....

Sportv Online disse...

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Anónimo disse...

Ok, esclarecido, reconheço a minha falta de atenção ao ler o texto.

Relativamente ao comentário das 18.37 não posso deixar de concordar com a preocupação porque nada leva a crer que a situação vai melhorar...

Os subsidios à formação que nunca vão para a formação é o facto que me causa mais estranheza!

Anónimo disse...

Por curiosidade.
Alguém tem o registo dos vencedores e classificação do Varzim em todos os torneios Ala Arriba realizados?

Sportv Online disse...

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Anónimo disse...

Embora,creio, que feito com boas intenções no entanto o "post" contém mais filosofia que verdades.
Antes de avançarem para este tipo de abordagem ao sector da formação, informem-se bem, com as pessoas certas, que lá dentro ou por perto acompanharam a evolução do sector, que não estejam ligadas ao sistema e depois se tiverem coragem para isso, avancem com o "post".
Uma boa noite.