11 de março de 2010

"Mestre" José Pedroto e a sua passagem pelo Varzim

Dezenas de treinadores de muitas origens, escolas e estilos - como de variáveis graus de competência - passaram, ao longo de décadas, pelo comando técnico das equipas de futebol do Varzim. Diversos foram os resultados, as heranças e as memórias que deixaram, nessas passagens duradouras ou fugazes. Não é sujeito de vida fácil, de qualquer modo, nenhum treinador (Cândido de Oliveira, mestre dos mestres, é que sabia e não deixou de o dizer, em verificação factual mas de intuito didáctico, ainda que, ao que se vê, ninguém tenha percebido nada: "O treinador que hoje é bestial é, amanhã, uma besta").

Sucede que houve, no futebol português, um treinador chamado Pedroto, José Maria de Carvalho Pedroto, que ficou como responsável original pela transformação radical da relação futebolística norte-sul, aquilo que em nossos dias sabemos ter sido o fim da hegemonia bicéfala lisboeta e, consequentemente, a entrada em cena, como protagonista - e não mais como comparsa ou elemento de decoração - do F.C. Porto. O atrevimento herético do "Zé do Boné", beirão de Lamego, contagiou a generalidade dos clubes nortenhos, que, hoje, mais do que pedir, aceitam meças dos congéneres do meridião nacional.

O Varzim Sport Club teve a honra e o proveito de, num curto espaço de tempo, contar com José Pedroto no número dos seus. Treinador é andarilho, fogo-fátuo, ave de arribação, mas a questão essencial é outra: um treinador deixa oubra ou não. No Varzim, Pedroto, polémico óbvio mas mestre indiscutível do futebol, deixou obra. Para além da memória de uma personalidade invulgar.

Na revista comemorativa das "Bodas de Ouro" do Varzim S.C., avulta uma entrevista a José Pedroto, "o treinador do cinquentenário". Aí, o entrevistador coloca ao técnico a seguinte pergunta:

"Com a onda de progresso e aperfeiçoamento do futebol nacional, apareceu a profissionalização do atleta. Como encara esta situação?"

E a resposta, decerto pertinente na época, com o sinal da lucidez e da visão premonitória de Pedroto, tem, hoje (2000), um cariz quase arqueológico:

"-Considero ser grande passo para a maioria do nosso futebol, em confronto com o de outros países, que antes adoptaram o profissionalismo, como meio único de melhor aperfeiçoamento físico e técnico, bases em que assenta o desenvolvimento de qualquer desporto, quando se pretende atravessar a barreira do entretenimento, levando o prazer até ao limite máximo da nunca atingida perfeição. Com melhores campos, mais e melhores bolas, melhores botas, superior condição física, mais tempo de lazer (trabalho), outros cuidados médicos, etc., etc., o nível médio do futebol é, forçosamente, mais elevado, com estes métodos em relação com os usados anteriormente, só possíveis pela implantação do profissionalismo, marcado ainda pelo estigma da imperfeição, enquanto não forem devidamente protegidos, corporotivamente, os jogadores de futebol, que só serão verdadeiramente profissionais quando incorporados na orgânica que nos rege."

Interessante é, na mesma entrevista, a opinião expendida pelo mítico homem do futebol no tocante à equipa do Varzim S.C., "vista" antes de ele próprio ter assumido o seu comando:

"- Vi, sempre, na equipa do Varzim, principalmente nos jogos de Campeonato, um grupo de rapazes que se batiam com garra, valentia e determinação, o que impressionava qualquer amante do futebol. Velocidade de bola e de pernas, passes longos e baliza nos olhos. Um estilo, uma toada, enfim, um processo de jogo que visava o aproveitamento total dos jogadores que o clube possuía. Bem estruturado, o Varzim era uma autêntica equipa do Campeonato."

Digna de atenção, enfim, a perspectiva de futuro traçada por José Pedroto, face a um momento de afirmação do clube entre os seus pares:

" - Com as responsabilidades de ordem material já existentes, o Varzim criou outras de ordem moral. Não pode nem deve estagnar, revendo-se na sua ascensão meteórica ao mais alto escalão do nosso futebol, ou adormecendo tranquilamente num lugar ao sol da tabela classificativa, longe dos dramáticos postos de angústica, que geram muitas vezes as desavenças internas e são as verdadeiras causas de ruína económica, autênticos suicídios a que os clubes são lançados, embalados pelo canto da cigarra e esquecidos do humilde exemplo das formigas ...".

Assim cruzou José Pedroto a história do Varzim, deixando, para além de um bom resultado desportivo, uma recordação grata e um legado pedagógico.


Outros treinadores


Porque o futebol é, não o esqueçamos, paixão, exigência de instante, caso de julgamento sumário, com absolvição ou castigo, muitos outros técnicos de nome prestigiado passaram, ao longo dos anos, e com tempos de permanência condicionados pelos resultados, pelo comando das equipas varzinistas envolvidas nas disputas dos campeonatos de vários escalões. Nomes como os de José Valle, Artur Baeta, António Teixeira, Rodrigues Diaas, Joaquim Meirim, Bernardino Pedroto, Washington, Ricardo Perez, Nicolau Vaqueiro, José Maria, Horácio, José Torres, Álvaro Carolino, Henrique Calisto...

Cade um destes técnicos cumpriu, na medida da sua competência, das suas possibilidadees, das condicionares ocasionais - grau de estabilidade geral, valia intrínseca dos atletas à disposição, ambição maior ou menor, capacidade de concorrência - o que da sua acção se exigia ou esperava. Com o Varzim em alta ou em baixa, nas divisões distritais ou nacionais. Uns ficando ligados a subidas de escalão, outros a descidas, muitos indo além ou ficando aquém das expectativas. Medindo-se, regra geral, a eficácia dessa acção pelos resultados conquistados, avulta no vasto leque de treinadores que orientaram equipas varzinistas o nome de António Teixeira. Por um motivo óbvio: foi ele que esteve à frente da equipa que alconçou a melhor classificação de sempre no Campeonato Nacional da I Divisão: o 5º. lugar, na temporada de 1978/79. Tal proeza ficaria a dever-se, fundamentalmente, a um facto inédito da equipa varzinista na I Divisão: não ter perdido um único jogo em casa, o que só teria paralelo, nessa prova, nos casos de F.C. Porto e Benfica. De assinalar, por curiosidade, que o Varzim segurou o seu quinto lugar ao derrotar, na última jornada, o Sporting, treinado por Milorad Pavic, por uma bola a zero. Golo de Albino, para completar a evocação.
A passagem de Joaquim Meirim correspondeu, também, a um período de euforia clubista, sobretudo pelo carácter original e plémico do então emergente treinador saído do desconhecimento para a ribalta do futebol. Meirim voltaria, uma segunda vez, ao Varzim, mas não iria além de três jornadas no comando da equipa.

Um homem deixou marca muito específica no Varzim Sport Club. Artur Baeta, "mestre" Artur Baeta, um homem reconhecidamente vocacionado para a formação de jogadores, para a descoberta e burrilamento - não só desportivo como cívico - de jovens talentos. Responsável, a partir de meados da décadda de 40, pela organização da Escola de Jogadores do F.C. Porto, Artur Baeta daria, episodicamente a sua colaboração ao futebol varzinista. Episodicamente mas de maneira marcante.

1 comentário:

Anónimo disse...

Desta vez gostei do trabalho...estás a ficar fino rapaz ao apresentares este tipo de trabalhos...bonitos históricos do meu ou melhor do nosso Varzim... assim ainda vai dar jornalista...muito melhor do que alguns que andam por aí com ar empinado e que julgam que sabem tudo e de tudo ...coitados de alguns que não tem onde cair de mortos... e julgam que tem o rei na barriga...um sócio a caminho do estádio