29 de fevereiro de 2012

Entrevista a Zé Maria da Música (2/2)



(Zé Maria no banco do Varzim com o símbolo mais bonito do mundo...)

Existem diferenças entre o passado e a atualidade em relação à MÍSTICA POVEIRA?
Naquele tempo, éramos como uma família. Normalmente, às segundas-feiras, para conviver e extravasar a tensão do jogo anterior, íamos comer a posta de bacalhau ao Paulino, em Laúndos. Na semana seguinte, quando entrávamos em campo, incentivávamo-nos uns aos outros e tentávamos passar a MÍSTICA aos mais jovens. Essa Mística existia mesmo. Depois, os sócios transmitiam-nos apoio e nós sentíamos esse “calor humano”. Antigamente tínhamos o Estádio do Varzim cheio. Essa era, também, uma motivação extra. Aos atletas vindos da formação e aos recém chegados ao clube, tentávamos encaixá-los no perfil da NOSSA MÍSTICA a da GARRA POVEIRA. Era assim que se faziam os plantéis do Varzim. Hoje, o Miguel, o André e o Telmo, são os principais portadores desse sentimento VERDADEIRAMENTE VARZINISTA. Mas, voltando aos meus tempos de jogador, quando perdiamos, eu tinha vergonha quando saía à rua. Sentíamos o peso e a responsabilidade em vestir esta camisola! Nós passávamos na rua e as pessoas questionávam-nos acerca do jogo e, muitas vezes, mostravam o seu desagrado por termos perdido. Na semana a seguir a uma derrota, eu vinha a pé para os treinos e evitava passar por onde estivesse muita gente. Sentíamos essas derrotas. Agora, isso não acontece. Ainda hoje em dia, o Manuel Fernandes (antigo capitão e goleador do Sporting), quando me encontra, falámos sempre um bocado de futebol, comenta: "Zé ,o teu Varzim está mal. No meu tempo, quando saiamos do autocarro para entrar naquele estádio, já sentíamos as nossas pernas a tremer. A pressão daqueles adeptos era enorme. Não só nós, mas também o Benfica e o Porto, tinhamos um grande respeito pelo Varzim.” Eram outros tempos.

Inclusive, lembro-me que o Diamantino Miranda, na semana em que assinou contrato como treinador do Varzim, deu uma entrevista antes do jogo para a Taça de Portugal contra o Benfica, de boa memória, pois (ganhámos 2 x 1) disse: “na semana anterior a virmos jogar à Póvoa sentiamos muito esse jogo, pois era um campo difícil para qualquer adversário. "Todos sentiam isso." Aliás, o actual treinador do Varzim [Dito], reconhece que, de facto, quando vinha aqui o Braga ou o Benfica jogar aqui à Póvoa, eles tinham de lutar para sair daqui com um resultado positivo.



(Zé Maria da Música, levantado em ombros pela massa associativa no final do jogo, frente ao União da Madeira. Jogo que ditou a subida de divisão)

Qual a tua maior alegria enquanto jogador do Varzim?
Foi quando subimos de divisão, na época 1985-86. Já falámos nesse jogo [contra o União da Madeira] num dia de muita chuva, mas com o estádio cheio. Fizemos o 1-0, eles empataram já na segunda parte, mas ainda fomos a tempo de ganhar o jogo. Lembro-me que, quase a acabar, eu salvei um golo mesmo em cima da linha de baliza. No final do jogo, fizemos a festa, fomos em ombros até ao balneário. Como este jogo foi no mês de Junho, posso dizer que foi uma festa de São Pedro antecipada. Depois, fomos para o Casino comemorar até “às tantas”. Nessa semana, foi só festejar. Lembro-me que quase não almocei ou jantei em casa tantos foram os convites..

E no ano seguinte, o Varzim esteve quase a conseguir o acesso às competiçoes europeias. Lembras-te?
Sim, perfeitamente. Foi por um ponto. Fizemos uma época muito boa. Também tinhamos uma excelente equipa, com muitos jogadores formados no clube que, tal como disse anteriormente, passavam essa MÍSTICA aos restantes jogadores do plantel. Na época seguinte, curiosamente, depois de um bom início de temporada, acabámos por descer de divisão. Mas, curiosamente, ganhámos em Alvalade 2-1 e empatámos no Estádio Nacional contra o Benfica 2-2, depois de estarmos a ganhar 2-0. Foi a tal época em que estivemos quase toda a segunda volta a jogar em casa emprestada (Tirsense, Rio Ave e Famalicão), por interdição do nosso Estádio, por causa de uma invasão de campo num jogo contra o Portimonense, salvo erro, num Sábado de Aleluia. Na vitória em Alvalade em que ganhamos 2 - 1 (ver resumo), o treinador Henrique Calisto nas suas declarações à TV elogiou a equipa, nós que éramos uma equipa jovem e de poveiros. A partir daí, foi o descalabro total.



Qual o treinador que mais te marcou no Varzim?
Todos me marcaram. Mas, o falecido José Torres era para mim uma pessoa muito educada, um grande Homem e que sabia muito de futebol. Tanto é que, depois do Varzim foi treinar a Selecção Nacional. Foi muito bom ter trabalhado com ele. Também gostei de ser treinado pelo Félix Mourinho (pai de José Mourinho) pelo Henrique Calisto. Este último, era muito exigente e disciplinador. Foi com ele que alcançámos aquele excelente sexto lugar. O Fernando Tomé também foi um homem espetacular.

Já que estamos a falar de treinadores, imaginas-te nessa função?
Não. O meu tempo já passou. Na devida altura não se proporcionou e decidi optar por regressar às origens, ou seja, voltei a ser pescador a tempo inteiro. Não estou arrependido da decisão que tomei, pois esta foi a minha vida antes de me tornar profissional de futebol. Mas penso que tinha vocação para ser treinador.


O Blog Lobos do Mar agradece a disponibilidade do nosso entrevistado - O grande Zé Maria.

Ala-Arriba Varzim S.C!

1 comentário:

Anónimo disse...

Mt bom!!! Fico a aguardar a próxima!!