22 de fevereiro de 2012

Entrevista a Zé Maria da Música (1/2)


"Era para esta baliza que a malta gostava de atacar... "

Começaste a jogar futebol relativamente tarde. Como surgiu o convite do Varzim?
Eu estava a cumprir a minha segunda época no Famalicão e a fazer um grande campeonato. Recordo-me que nesse mesmo ano viemos ao tradicional Torneio de Verão da Póvoa. Eu era ponta de lança e ganhámos 1-0 ao Varzim, golo de minha autoria. A partir daí, o Varzim e outras equipas interessaram-se por mim. Então, o Senhor Lídio Marques [Presidente do clube] disse ao Senhor Zacarias Couto [Secretário Técnico] para ir a minha casa apresentar uma proposta. Nem olhei para trás, em dois minutos estava tudo acordado. Era o clube da minha terra, do qual ainda hoje continuo a ser sócio com quotas pagas. Sempre que a minha vida profissional o permite, vou sempre ver o Varzim.

Mas depois começaste a jogar em “terrenos mais recuados”. Porquê?
Foi num jogo em que o Famalicão foi fazer ao campo do Riopele. Um dos nossos jogadores lesionou-se e fui ocupar o lugar dele. Lembro-me perfeitamente do nosso treinador de então, o Fernando Tomé [actual coordenador do futebol jovem do Vitória de Setúbal] me ter perguntado: “Zé Maria, és capaz de desempenhar a função de central?" Respondi: Mister, dentro das minhas possibilidades vou tentar desenrascar-me. A partir desse momento, fui alternando entre a defesa e o meio-campo.

Pelo que disseste, o teu percurso não foi igual ao da maioria dos outros jogadores de futebol. Começaste a jogar futebol muito tarde.
Sim, nos Leões da Lapa com 20 anos. Mas com 15/16 anos jogava futebol de salão no Desportivo da Póvoa e as pessoas diziam que eu era um bom jogador. Vim prestar provas ao Varzim, mas como não podia vir sempre aos treinos, em virtude de “andar ao mar”, o falecido Carvalhido dispensou-me.
Depois dos Leões da Lapa, fui jogar para o Fajozes. Era ponta de lança, marcava golos e as pessoas chamavam-me Yazalde [antiga glória do Sporting]. Estive lá três anos. Depois, o Leonardo levou-me para o Castêlo da Maia, onde estive uma temporada. Entretanto, em razão das minhas exibições, surgiram alguns convites (Paços de Ferreira, Penafiel, Famalicão). Novamente, por intermédio do Leonardo, de quem era muito amigo, fui para esta última equipa. Aí, ganhei maturidade e pude aperfeiçoar alguns aspectos técnicos e tácticos. Como disse anteriormente, foi então que apareceu o Varzim. Assinei um contrato de três anos, isto na época de 1983/84. Na época seguinte, em Janeiro de 1985, tive a infelicidade, num jogo contra o Benfica, em que perdemos 1-0, de partir a perna numa disputa de bola. Essa partida foi a repetição de uma outra, que estávamos a ganhar 1-0, mas que não chegou ao fim, porque o fiscal de linha foi agredido com uma garrafa arremessada pelos adeptos do Benfica. A partir daí, foi sempre “a pique” e acabámos por descer de divisão, depois de estarmos próximo dos lugares europeus. Recuperei, e no ano seguinte, subimos novamente. Lembro-me bem desse último jogo da liguilha, num Domingo de chuva, contra a União da Madeira. Ganhámos 2-1 e o apoio dos nossos adeptos foi decisivo. Então, renovei por mais dois anos. No primeiro, ficámos nos primeiros lugares da tabela, no segundo, descemos. De recordar que fizemos quase toda a segunda volta os jogos em casa em terreno emprestado, pois o nosso Estádio foi interditado após um jogo com o Portimonense. No ano seguinte, fui para o Tirsense, permanecendo aí três anos, regressando ao Varzim para cumprir mais duas épocas.


(Zé Maria da Música, em frente ao mar da Póvoa...)

Foi uma decisão difícil trocar o Varzim por outro clube?
Sim, porque eu era uma pessoa muito acarinhada pela massa adepta do Varzim, que me via como um dos seus símbolos dentro das quatro linhas. Era o tipo de jogador a quem a frase mais vale quebrar do que torcer se pode aplicar. Eu sentia o peso desta camisola…

O que sentiste quando regressaste à Póvoa para defrontar o teu Varzim?
Para quem pisava este relvado todos os dias, foi muito difícil. Muitas pessoas não viram com “bons olhos” a minha saída do Varzim, outras, entenderam. O clube é eterno e os jogadores passam por ele, mas eu sentia um enorme prazer em jogar pelo Meu Varzim. Aquele dia foi muito estranho. Eu olhava para as camisolas do Varzim, particularmente para a 6 e dizia para mim mesmo: tantos anos joguei com aquela camisola... Mas eu era profissional e tinha que defender as cores do meu clube de então, o Tirsense. Ganhámos esse jogo, mas, por respeito ao Varzim e à sua massa adepta, não fiz grandes festejos, quer no momento do golo, quer no final do jogo. Enquanto jogador do Varzim era diferente. Quando marcávamos um golo, subíamos a rede e incentivávamos os sócios, partilhando essa alegria com eles.

Lembras-te de alguns golos que marcaste?
Lembro-me, particularmente de um ao Guimarães, na baliza norte. Uma bola tirada da área, pico-a sobre a defesa e depois, em frente ao Jesus, foi só escolher o lado. Foi um golo lindo, de fazer levantar qualquer estádio. Tive de o partilhar com a nossa massa associativa junto da rede. Fiz, também, dois golos ao Rio Ave. Um parecido com o que marquei ao Guimarães. (o Guarda-Redes era o Figueiredo), o outro, na sequência de um cruzamento da direita do Vitoriano, ao primeiro poste, “Pimba”. Posso afirmar que nunca perdi um jogo contra o Rio Ave. Numa outra ocasião, na época 1984/85, num jogo disputado no Estádio do Mar em Matosinhos, “casa emprestada” ao Salgueiros, empatámos 2-2 e os golos foram de minha autoria. Por época fazia sempre 5/6 golos. Eu era um jogador atrevido. Tenho a certeza de que se os treinadores me dessem mais liberdade para subir, poderia fazer mais alguns, mas eles não deixavam, pois diziam que eu era essencial para dar equilíbrio ao meio-campo. Nas duas últimas épocas do Varzim era eu que “batia” os penalties e, por essa razão, numa delas fui o melhor marcador da equipa.

Sentes-te uma referência para qualquer jogador que enverga esta camisola?
O pessoal que me viu jogar diz isso. O Zé Maria era um homem que lutava até ao fim das suas forças dentro das quatro linhas. Hoje em dia, vejo o exemplo do Telmo. Já tem uma certa idade, mas parece um jovem, pela forma como ele se entrega ao jogo. Para mim ele não é Brasileiro, digamos que é um Brasileiro nascido na Póvoa. Se todos fossem como ele...


(Zé Maria da Música com a camisola mais bonita do mundo...)

Como podem calcular, a entrevista do Zé Maria é longa, por isso teremos de colocar a segunda parte na próxima semana. Uma segunda parte que promete. Não percam!

11 comentários:

Anónimo disse...

PRA QUANDO A SEGUNDA PARTE DA ENTREVISTA......??????????????

Anónimo disse...

JOSÉ MARIA MARQUES DA MATA......... MAIS CONHECIDO POR ZÉ MARIA DA MUSICA , JOGADOR E TREINADOR DO NOSSO GRANDE VARZIM. OUVI DIZER QUE ACTUALMENTE ANDA AO MAR... MAS COM O VARZIM SEMPRE NO CORAÇÃO
COMPRIMENTOS VARZINISTAS

Lobos do Mar disse...

A segunda parte será publicada na quarta-feira.

Saudações Varzinistas

Anónimo disse...

PELO QUE LI NA ENTREVISTA O ZÉ MARIA JOGAVA NO VARZIM COM NUMERO 6 NAS COSTAS ..... O MESMO NUMERO DE OUTRO JOGADOR QUE PASSOU PELO VARZIM, DE NOME TITO..... TITO QUE TAMBEM É UM JOGADOR COM RAÇA , COM HUMILDADE , ENFIM UM JOGADOR A VARZIM... ZE MARIA E TITO , DOIS GRANDES JOGADORES VARZINISTAS COM O NUMERO 6 NA CAMISOLA.....
COMPRIMENTOS VARZINISTAS

Anónimo disse...

ESTA ENTREVISTA A GRANDES JOGADORES VARZINISTAS E AINDA POR CIMA POVEIROS E DE LOUVAR.... E JA AGORA PODIAS IR ENTREVISTANDO MAIS ALGUNS EX- JOGADORES DO NOSSO VARZIM..... ACHO QUE O PESSOAL IA GOSTAR BASTANTE , UM APOIANTE JA TENS.... COMPRIMENTOS VARZINISTAS

Lobos do Mar disse...

Obrigado pelo seu apoio. De facto vamos continuar com estas entrevistas a antigas glórias Varzinistas, e o próximo entrevistado será divulgado em breve. Eles que suaram e que deram tudo pelo nosso clube, merecem o carinho de todos os Varzinistas. Estas entrevistas podem ser consideradas como uma homenagem aos nossos antigos jogadores.

Anónimo disse...

Boa entrevista!!
Excelente ideia e trabalho!! :-)
Saudações varzinistas

Anónimo disse...

Não é muito correcto estarem a lançar o jantar do Varzim sem o site oficial o noticiar... mas sendo assim, já sou uma presença confirmada. FORÇA VARZIM!

Lobos do Mar disse...

Caro anónimo, se anunciamos, é porque temos carta branca para o fazer.

Saudações Varzinistas

Anónimo disse...

o tito não vale uma perna do zé maria. quem escreve estas asneiras!!!

Anónimo disse...

Eu lembro-me do Zè Maria,ele tinha-a toda,todos os jogos todos os minutos que jogava a bola,era assm......ou passa a bola ou passa o homem e um hà-de cà ficar,era um homem com coração para o varzim e para toda a pòvoa......bons velhos tempos zè ...........os meus sinceros parabèns pelo que fizes-te pelo nosso Varzim