15 de junho de 2010

Benje, o melhor guarda redes do mundo

Quando a bola estava longe, a sua presença lembrava mais a de um velho sábio africano, cansado das duras batalhas. Quando a bola ou os adversários invadiam, por alto ou pela terra, a sua área, ai ele virava pantera ou gato negro, felino, com uns reflexos espantosos, voando para as chamadas defesas impossíveis. Jogou entre os anos 60 e 70 (Farense, Varzim, Leixões...) e era... o melhor guarda redes do mundo! .


Na baliza, quando a bola estava longe e dava uns passos no meio da grande área, a sua presença lembrava mais a de um velho sábio africano, cansado das duras batalhas que travara no passado, do que a de um felino voador. Não sei se esta imagem balzaquiana me ocupa a mente devido a só o ter visto, com olhos de ver, já na fase terminal da sua carreira, as ultimas quatro-cinco épocas, mas a verdade é que, logo por cima dessa imagem, se sobrepõe outra, muito mais forte, que emerge quando recordo a sua reacção quando a bola surgia na sua área, por alto ou com avançados isolados ávidos por o fuzilar. Aí, o gigante Benje, virava gato negro, felino, voador, com uns reflexos espantosos, executando, com eficácia e beleza estonteante, as chamadas defesas impossíveis. Por ser negro, algo ainda hoje pouco comum, nos guarda redes que jogam na Europa, todo aquele aparato tinha ainda uma maior dose de magia feiticeira, como se fosse dono de qualquer segredo africano. Mesclava o inestético com o espectacular e criava um estilo único e deslumbrante. Como fez quase todas a sua carreira por clubes ditos pequenos (Varzim, Farense, Leixões...) daqueles que jogam para não descer de divisão, num tempo em que as diferenças entre as equipas em Portugal era gigantesca, as suas sucessivas grandes exibições adquiriam contornos verdadeiramente épicos.

Benje no Varzim(1970)
Benje pertence, indubitavelmente, ao universo mágico do futebol português, num tempo em que o império ia do Minho até Timor, ele era, vindo de Angola, como um símbolo desses enorme legado ultramarino que tantas glórias e grandes jogadores, brincas na areia, engraçados e fenómenos, deu ao nosso futebol. O homem que melhor definiu a categoria de Benje foi, no entanto, um famoso e precursor treinador que marcou uma época no nosso futebol, pelo sua juventude irreverente, discurso diferente, caustico e que, ainda hoje, estaria muito á frente da maioria dos treinadores que ocupam os bancos da Super Liga. Era Joaquim Meirim e a história sucedeu quando treinava o Varzim, no inicio dos anos 70, e o guarda redes suplente andava sempre muito chateado porque nunca jogava. Nem um minuto sequer. Foi então que Meirim, para o moralizar lhe disse para estar tranquilo, que a sua hora iria chegar, pois ele era...o melhor guarda redes da Europa. O “keeper” suplente abriu os olhos de espanto. Se era assim, então porque não estava a jogar? Simples: porque o titular, Benje, era o melhor guarda redes do... mundo! Palavra de mestre Meirim...
Espaço nostálgico sobre lendárias figuras do velho futebol português. Um exercício de memória cruzada entre a realidade e a forma como, no imaginário construído pelo tempo, as gostamos de recordar, sem recurso a registos ou jornais velhos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Eram 3.
3 grandes guarda-redes, treinados por um só treinador: Meirim. Sózinho, sem as grandes equipas técnicas que hoje existem, tal como o saudoso Teixeira. Deliciava-me a ver a forma como os treinava.
Benje, Zé Luís (espanhol da Galiza e compadre do Raul do Predilecto) e Castro. Qual deles o melhor!
Muito haveria a recordar. Que é feito deles? Um bom tema jornalístico de...história do nosso prestigioso Clube.

Anónimo disse...

ora cá está mais uma deixa sobre o que disse em post anterior...mas para isso tem que haver ou criar o Varzim a secção do tipo conforme vou-me lembrando na senda daquilo que reivindico há muitos anos. Dá trabalho, dá... tem custos, tem... mas vale a pena porque é o que falta ao clube informar, fazer histórico, lembrar a estes jovens de agora que o Varzim era uma religião e por aí fora. Agora não comem comida de plástico e mais não sei o quê que lhes cai no prato...depois vão a correr para as urgencias dos hospitais com ataques de ... caspa

CASTRO disse...

ouve dois varzinistas anonimos que falaram de tres grandes guarda-redes no tempo de meirim,pois eu sou um desses tres grandes guarda-redes,meu nome é castro,gostava que esse dois varzinistas,fossem compensados com sua ideia,e já agora conhece-los.meu site castro.kaka@hotmail.com