12 de janeiro de 2012

Reconfigurações da realidade

É incrível a forma como o conhecimento da verdade ajuda a refrear os impulsos mais primários de certa gente. Quando o clube de Vila do Conde emitiu o comunicado anunciando o corte de relações institucionais com o Varzim, logo alguns embandeiraram em arco para dizerem que, tal como se esperava, a direcção do Rio Ave sabia muito bem aquilo que está a fazer quando recusou ao nosso clube o pagamento de 10% do valor da transferência do Júlio Alves para o Atlético de Madrid.

Ora, tomando como argumento de partida que nunca foi intenção do presidente da agremiação vilacondense cumprir o acordo verbal firmado com o presidente do Varzim (remetida por escrito para que fosse assinada), torna-se evidente que António da Silva Campos, eventualmente coadjuvado pelo presidente da Assembleia Geral (ou terá sido ao contrário?...), sabia muito bem o que estava a fazer. Ou seja, o clube de Vila do Conde, dolosa e premeditadamente, sabia que estava a montar uma cilada.

E sobre este ponto, deixo desde já uma consideração: Lopes de Castro terá pecado por excesso de boa fé ao tentar garantir por palavras um negócio com alguém sem carácter e que não é merecedor de crédito algum. É por situações como esta que, não raro, o futebol é conotado com falta de transparência e corrupção. Quando a palavra dada vale zero, a parte em falta não vale mais do que um excremento cavalar.

Mas reconstituamos os factos de forma simples: tal como os irmãos, Júlio Alves iniciou-se no Varzim de onde se transferiu para o FC Porto. Dispensado do clube azul e branco, tentou regressar à casa mãe que não se mostrou interessada em ficar com o jogador. Pode-se achar que, do ponto de vista desportivo, a decisão foi certa ou errada. A cada qual caberá a sua opinião. Pessoalmente, admito que o jogador pudesse ter sido valorizado, com retorno desportivo e financeiro a nosso favor. Como a nossa opção foi descartar o atleta, ele, com todo o direito que lhe assiste, bateu à porta do Rio Ave que o recebeu e valorizou.

De resto os pontos seguintes do comunicado emitido pelo clube de Vila do Conde são claros nesse aspecto:

1. (Na época) de 2009/2010 correspondeu às expectativas, tendo sido mesmo considerado o Atleta Júnior do Ano

2. Tendo manifestado todo o interesse em continuar no Rio Ave FC no plantel sénior para a época 2010/2011, entendeu-se que seria vantajoso rodar num clube com menores pretensões futebolísticas, tendo vindo a assinar contrato com o Ribeirão.

3. Em Janeiro de 2011, logo ainda na época antes referida e face às excelentes exibições que vinha a realizar, diligenciou-se o seu possível imediato regresso ao Rio Ave FC, o que veio a acontecer.

4. Perto do fim dessa época, após ter já suscitado interesse de vários clubes portugueses e estrangeiros, acordou-se a sua transferência para o Atlético de Madrid pelo valor de 2.600.000,00 euros.

Até aqui, tudo certo! Aquilo de que a direcção do Rio Ave não fala é da conversa entre os dois presidentes, em Julho de 2010, e em que António da Silva Campos revela a intenção de propor a Júlio Alves um contrato profissional. Sabendo, de antemão, que o clube que dirige não tinha verba para pagar ao Varzim os direitos de formação, Silva Campos propôs a Lopes de Castro o tal acordo segundo o qual o Varzim abdicava dessa compensação, recebendo em troca 10% de uma futura transferência do atleta. Os termos, ACORDADOS POR AMBOS OS PRESIDENTES, deveriam ter sido enviados ao Varzim por escrito para que se cumprisse no papel a palavra dada.

A partir do momento em que tal não acontece, e é a direcção do Varzim a ter que dar os passos que deviam ter sido dados pelo Rio Ave, percebe-se bem que o clube de Vila do Conde está-se marimbando para aquilo que o seu presidente deveria ter honrado com a sua própria palavra.

Donde, inusitado e mentiroso é o ponto seguinte do comunicado rioavista:

5. É então que surge a incompreensível pretensão do Varzim SC a querer receber 10% do valor da transferência, estranhamente enviando mesmo uma proposta de Acordo e argumentando basear-se numa pretensa conversa entre os dois presidentes!

Quanta desfaçatez! A conversa não só não foi pretensa como não foi apenas uma. Foram várias! Ao telefone e por escrito. Aliás, no site do Varzim está reproduzida integralmente a troca de correspondência entre ambos os clubes, coisa que o comunicado do Rio Ave não faz.

Como sempre, numa nota escrita “com os pés”, o clube de Vila do Conde prefere insinuar-se com a arrogância que tão bem o caracteriza, tentando dar lições de gestão e dirigismo desportivo.

Normalmente isso acontece quando estão na I Divisão. Se é verdade que o Rio Ave tem uma política de valorização de activos mais eficaz que a nossa, também não é menos verdade que essa apetência é inversamente proporcional à honradez e à credibilidade de quem dirige o clube de Vila do Conde. Por isso é que eu digo (e continuarei a dizer) que, muitas vezes, a grandeza de um clube não se vê no escalão onde compete, mas sim no carácter dos seus adeptos e, sobretudo, dos seus dirigentes. Nesse ponto, em relação ao Rio Ave, estamos conversados. Têm uma massa adepta incomparavelmente menos numerosa e interessada do que nós e uma direcção vigarista que não se importa de viver na autarquio-dependência e na sombra de um presidente de câmara que é, ao mesmo tempo, presidente da Assembleia Geral do clube.

Mas voltemos ao assunto central: aquilo que António da Silva Campos não contava era transferir Júlio Alves por tão alto valor. Donde a importância inicial do acordo para o Rio Ave, do qual o Varzim também não sairia a perder. Mas quando se recebe 2 milhões e 600 mil euros, os cofres transbordam e já se pode pagar 52 mil euros relativos aos tais direitos de formação inscritos na lei, bastante inferiores aos 260 mil euros correspondentes aos 10% acordados verbalmente.

Infelizmente não vejo nenhuma via legal que obrigue o Rio Ave a cumprir com o que prometeu. Será sempre a palavra de um contra o outro.

Mas não deixa de ser curioso que os mesmos que, a 4 de Janeiro, se declaravam satisfeitos por verem que a direcção do Rio Ave sabia bem o que estava a fazer (chegando até ao cúmulo de agradecerem o cabal esclarecimento dos factos), tenham agora mais reservas.

Agora já dizem que, à primeira vista, a lei está do lado do Rio Ave. Se o apuramento da verdade passar pelos tribunais, tal como Lopes de Castro admitiu em declarações ao MaisFutebol, veremos quem tem razão.

Não deixo, no entanto, de estranhar o silêncio de Silva Campos quando confrontado pelo mesmo jornal online.

Tê-lo-á feito por voto próprio? Ou, num acto "democrático", ao melhor estilo norte-coreano, terá sido silenciado pelo "Grande Chefe", "Amado Líder" ou "Génio Supremo" (ou lá o que lhe queiram chamar)?

5 comentários:

Anónimo disse...

Quem manda no RA é o presidente da Câmara e depois há um fantoche chamado ASC que "gere" o clube.
O presidente do varzim foi um anjinho, o facto do diretor geral de futebol do RA circular livremente nas nossas instalações "fazendo a cabeça" a certos jogadores é disso resposta.
Acho estranho que o lopes de castro com estes documentos todos tenha deixado arrastar-se esta situação por tanto tempo ainda para mais sendo uma resposta a um comunicado, primeiro, do RA.
Para aqueles que falam de que a câmara da póvoa só contrata a ASC convido-os a irem ao novo site do governo para verificarem onde a câmara da póvoa gasta o seu orçamento.
SOMOS MAIS FORTES E CONTINUAREMOS MAIS FORTES SEJA NA I, NA II OU NA III.

SN disse...

Obrigado, "Preto no Branco" por expressares neste post aquilo que todos os varzinistas estão a sentir relativamente a este assunto.

Tenho muito orgulho em ser VARZIM e ser POVEIRA!

Anónimo disse...

Grande Varzim Grandes Adeptos somos sem duvida alguma diferentes , em relação ao clube do outro lado da fronteira esta tudo dito nao comparem vilas a cidades

AMOTE VARZIM
O MEU UNICO CLUBE

Anónimo disse...

Além das guerras de palavras inúteis que apenas contribuem para reduzir os dois clubes à dimensão que têm hoje, continuo a achar que os interesses do Varzim não foram acautelados como deviam ser na altura certa.

Mesmo avançando para os tribunais não estou a ver como vamos buscar mais do que os direitos de formação a que teríamos aliás sempre direito. Enfim.

Esta é a minha opinião.

Anónimo disse...

Preciso de um esclarecimento. Esse senhor Campos é o dono da ASC? Aquela empresa que fez as obras das piscinas? E que quer fazer as obras do Garret? Se sim, ele não tem vergonha? Se isto fosse na Vila já tinha sido corrido pelo dono da quinta, Mário Almeida. Aqui somos pacificos. Ainda bem. É bom viver na Póvoa.