27 de março de 2013

“Por vezes é preciso ser humilde”

 Críticas à anterior gestão do Varzim

 Entrevista do presidente da Junta de Freguesia da Póvoa de Varzim, Daniel Bernardo, ao jornal Mais Semanário.

  A Junta da Póvoa e sua pessoa estão mais próximos do Varzim, alguma razão?
 Não é verdade, aliás, devo dizer que, desde que sou presidente da Junta, sempre apoiamos as camadas jovens, repito, sempre apoiamos as camadas jovens. Se calhar hoje tem mais visibilidade e maior reconhecimento do clube, talvez pelo relacionamento que existe com os órgãos sociais do clube, mas sempre estivemos presentes com o nosso apoio. Apoiamos as associações de bairro, mas o Varzim é o clube mais representativo da cidade e se calhar o maior valor será para eles, mas também porque têm mais jovens. O Varzim tem cerca 250 jovens e está a formar homens e a correr bem, talvez só meia dúzia sigam a vida futebolística. Nos jogos em casa, entregamos um diploma ao atleta que tem as melhores notas. Isso é um incentivo ao jovem a estudar, e por isso é o dever de uma autarquia ajudar o clube.

Então, se agora há mais visibilidade, o que falhou em relação à anterior direção? Não houve relacionamento privilegiado?
 É óbvio que não… falar sobre o Varzim é um assunto que mexe profundamente comigo. Sou sócio do Varzim há 36 anos, com participação ativa, inclusive no Conselho Varzinista, cuja participação no último recusei como forma de protesto pelo rumo que a anterior direção estava a dar ao clube. O Varzim era conhecido por ser um clube cumpridor à imagem das gentes poveiras, humildes mas honradas, mas nos últimos 8 anos, o clube andou nas bocas do mundo pelos piores motivos. De clube cumpridor, deu lugar a uma imagem de clube que não pagava aos jogadores, funcionários e credores. Há duas semanas ouvi os responsáveis dos últimos oito anos da gestão do clube, nomeadamente o Presidente da Assembleia Geral e o Presidente da Direcção, o primeiro a dizer que a culpa da não subida foi das Finanças e o segundo a atirar as culpas para a Câmara. As Finanças não são uma Instituição de Solidariedade, mas sim um departamento estatal que, entre outras coisas, obriga de forma coerciva a cumprir os incumpridores. Depois, assacaram responsabilidades à Câmara da Póvoa de Varzim, na pessoa do seu presidente dr. Macedo Vieira. É da maior ingratidão e desonestidade. Todos temos defeitos, e o senhor presidente da Câmara não foge à regra, aliás julgo que o maior defeito do dr. Macedo Viera é amar demais o Varzim. Aliás, é preciso dizer que a última direção do Varzim não tinha qualquer credibilidade perante a Administração Fiscal, até porque pagaram uma prestação do PEC com um cheque sem provisão e não cumpriram com os pagamentos acordados com o fisco.

 Está agastado com o que se passou no Varzim?
 Sim. Quem esteve lá 8 anos a gerir o clube e que tinha o dever zelar pelo cumprimento dos estatutos do clube e bom nome do clube, não tem responsabilidade nenhuma? De berço, fui educado a perceber que a memória é a maior arma contra “os oportunistas de ocasião”.
Repare, em julho de 2012, aquando da situação da inscrição do clube nas ligas profissionais, e o tempo ia esgotando para o anterior presidente do Varzim arranjar uma solução, houve um Conselho Varzinista, onde não estive presente, pelos motivos que já referi, e à saída, o presidente do Varzim da altura disse, e há gravações que documentam estas declarações: “Se não nos inscrevermos, não competimos na Liga de Honra e o Varzim tem de competir no escalão abaixo, mas a partir de quarta é que quero pôr esse cenário, embora também seja claro, e isso ficou muito bem vincado lá dentro nesta reunião, a acontecer a não inscrição da equipa, há um responsável, é o presidente da direção e, por isso, não tenho condições de continuar...”. Afinal, em que ficamos?
 Na altura havia um responsável pela situação, que assumiu todas as responsabilidades, e 7 meses depois, a responsabilidade transmitiu-se?, mudou de dono?. O clube não teve as certidões porque a Direcção de então não pagou o que tinha acordado com as finanças, durante vários meses.
Era importante perguntar ao senhor da empresa Hagen, se o encontrarem, e que apareceu no jantar de aniversário do Varzim, a dizer que já tinha financiamento bancário e que o estádio ia avançar...onde está o dinheiro? Que é feito desta empresa? Repare, os 500 mil euros que foram pagos a uma empresa pela direção do Varzim, para escolher a melhor proposta, e que o Sr. Presidente da Mesa da Assembleia Geral disse publicamente, que previamente à abertura das propostas até já estava escolhido o vencedor, chegavam para o Varzim se inscrever nas competições profissionais.

Mas o Daniel Bernardo, dado a sua profissão não poderia ter ajudado a anterior direção?
 Nunca me pediram apoio, nem me contactaram sobre essa ou outra matéria. E, posso adiantar o seguinte: sabia que apesar do Varzim ter sido excluído do PEC por incumprimento das prestações, o clube, ou melhor, os responsáveis do clube, podiam ter requerido novo PEC? Na Lei que regula este procedimento extrajudicial nada o impede. E, tratado atempadamente, já se evitaria esta situação inédita no futebol português, do campeão nacional não subir de divisão...
 Existia, também a possibilidade de recorrer ao PER, um procedimento judicial, que com acordo permitia a suspensão dos processos e a obtenção da certidão para inscrição. Acrescento ainda, apurem como procederam o Trofense, Leixões, Setúbal para inscreverem as equipas nas Ligas Profissionais.

Então, porque decidiu agora ajudar a atual direção?
 O senhor Pedro Faria veio pedir a minha colaboração. Apresentou-me em traços gerais a situação em que o Varzim se encontrava e as suas possibilidades de pagamento das dívidas herdadas. Dentro dos meus conhecimentos, sugeri que o clube deveria tentar um acordo extrajudicial com todos os credores, para o clube poder alargar os prazos de pagamento no tempo. Indiquei o “SIREVE” (sistema de recuperação por via extra judicial) porque dentro destes diplomas de revitalização, é o que permite um pagamento mais alongado no tempo. Volto a referir que actualmente,  com esta direção do Varzim, a Junta passou a ter relações excelentes.
Quanto ao acordo, para já foram dados passos importantes. Ainda faltam uns pormenores para que o Varzim tenha as certidões em mãos e possa obter as verbas públicas a que tem direito, de forma a reestruturar a dívida, alongando-a no tempo, permitindo respirar para poder viver.
 Posso-lhe dizer, que por vezes é preciso ser humilde e saber pedir ajuda. Pela posição que ocupo, a minha missão é ajudar.

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