20 de maio de 2010

Texto de João da Varzea em 19/2/1966

Há muitos anos os jogadores do Varzim eram acompanhados ao campo, em tardes de futebol, por frenética multidão que engrossava ainda mais á medida que eles passavam pelas ruas. De uma maneira geral, os jogadores saltam da sede, em grupo. E a multidão - gente humilde, que sustentou e amparou o Varzim durante muito tempo, pois que sem o seu entusiasmo nada teria sido possível por muito boa vontade que tivessem os seus responsáveis - seguia-os rua adlante, a cantar este estribilho:- « O réferee apita, a linha avança...» Deve haver - há concerteza - quem se recorde ainda desse entusiasmo que fazia vibrar a Póvoa e levava muitas vezes, os jogadores á vitória.
A gente poveira via o "seu" Varzim com os olhos no coração. Dei muitas vezes com alguns desses rapazes entristicidos e a lamentarem-se por não se verem escalados para o jogo no dia seguinte, quando na véspera procuravam saber a constituição do grupo. Nesse tempo não havia ordenados, nem prémios de vitória, nem nada! Não quero dizer que os jogadores de agora não cumprem o seu dever e não ponham na luta toda a dedicação e entusiasmo, procurando levar o Varzim a maior cometimentos. Longe disso! Estas linhas vêm a propôsito do cinquentenário do velho clube que agora se comemora. E porque vêm a-propósito, eu pretendo recordar que a maior parte daqueles jogadores nascidos e criados na Póvoa, compravam á sua custa as chuteiras, as meias e as caneleiras, ajudavam o clube na compra das bolas, pagavam a maior parte das vezes, as deslocações, em comboio, em «char-á-bancs» e depois em camionetes, e levavam de casa os lanches, por reconhecerem que o Varzim não podia ir além das despezas a que era obrigado pela força das circunstancias.
E depois - estou a ver o leitor a querer saber o fim deste arrazoado que ele supõe sem pés nem cabeça. Eu digo-lho. Precisamente agora que se está a comemorar um fasto brilhante na vida do Varzim - 50 anos só se comemoram uma vez na vida - não vi que tivesse havido um gesto de simpatia e de reconhecimento para com esses rapazes a quem o clube tudo deve. Vi que foram galardoados os fundadores e todos os directores, a quem foram oferecidos emblemas comemorativos das Bodas de Oiro, mas esqueçeram-se os sacrificados, todos os que deram o corpo ao manifesto - como é costume dizer-se - e que nesses tempos aureos em que o futebol era uma autêntica escola de civismo e de camaradagem, arrancaram para o Varzim e para a Póvoa tardes imorradoiras e inesqueciveis, tardes de triunfo e de algria sem par. E eu recordo com uma saudade pungente, á medida que os anos vão avançando, o estribilho cantando em coro por essas ruas fora; - « O réferee apita, a linha avança...» e recordo também o entusiasmo que se apoderava de todos - de novos e de velhos, estes a delirarem com a alegria dos novos. Era isto, só isto, o que eu tinha para dizer...


Texto de João da Varzea, jornal Comércio da Póvoa em 19/2/1966

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4 comentários:

Anónimo disse...

Bons tempos do amor á camisola.

Anónimo disse...

Não vi e nunca verei nada disto...

Oh Varzim! :´(

Anónimo disse...

Belo texto. Diz muito daquilo que foi e é o Varzim: uma massa associativa humilde mas fiel e um conjunto de líderes fracos.

Anónimo disse...

Um excelente texto!
Mas é mesmo isso,isto ja é passado e agora nada é assim e temos que nos habituar ao "hoje".

Força Varzim!!