Reflexões

Consumado o pesadelo, é tempo de pensarmos no que correu mal esta época, mas também naquilo que o futuro imediato nos reserva. Para já, por incrível que pareça, a descida poderá não ser uma realidade: caso o Varzim consiga reunir as condições para se inscrever na próxima edição da actual Liga Orangina, é bastante possível que acabe por permanecer na mesma, dado que existem pelo menos mais quatro clubes com a corda na garganta, sendo que um deles corre o risco de, pura e simplesmente, ter de fechar portas.

Deparamo-nos com um cenário de crise constante e cada vez mais grave, fruto não só de governos que geriram o País acima das suas possibilidades, mas também da crise financeira internacional e de sonhos megalómanos de muitos daqueles que presidem aos destinos dos clubes de futebol e das estruturas organizativas das provas profissionais desse desporto no nosso País. E é com esse cenário em mente que urge cerrar fileiras e defender o nosso Clube. Em tempos lancámos o apelo àquilo a que alguém mais tarde viria a chamar uma "Operação Coração" à Varzim, ideia que não terá sido considerada oportuna pela Direcção. Mas, seja com ideias desse tipo, seja com outras, a hora é de remarmos todos para o mesmo lado, quer fiquemos nesta Liga quer desçamos.

Penso ser necessário tomarmos consciência, de uma vez por todas, de que este modelo de escalão secundário é desajustado e megalómano face à situação actual da maioria dos clubes. Isto é algo que venho a dizer há pelo menos dois anos e, infelizmente, o futuro deu-me razão. Face à falta de patrocínios e aos gastos que ela comporta em termos de deslocações e não só, é tempo de acabar com a 2ª Liga e voltar à fórmula antiga em que o segundo escalão era composto por 48 equipas divididas em três grupos de dezasseis cada (Zona Norte, Zona Centro e Zona Sul), cujos três campeões tinham acesso directo à 1ª Liga. A hipótese de doze clubes em cada Zona também é viável (1ª fase com 22 jogos e 2ª fase com os seis melhores classificados a lutarem pela subida e os seis piores a lutarem pela manutenção, à semelhança do actual figurino da 2ª e da 3ª Divisão). Não me venham dizer que o figurino actual é mais fácil para arranjar patrocínios, quando esses patrocínios não chegam. E não me venham dizer que o modelo actual é mais competitivo, quando os plantéis são cada vez mais fracos devido à falta de dinheiro e, por consequência, os jogos são, geralmente, de péssima qualidade.

Depois, olhando para dentro de portas, conheço os condicionalismos financeiros com que o Clube vive. A herança recebida da Direcção anterior foi pesada, os subsídios já não são o que eram, os patrocínios (face à crise financeira e à ausência de resultados desportivos favoráveis) são cada vez mais difíceis, a Hagen não parece estar em condições de cumprir o contrato com o Varzim, entre outros problemas. Mas (e este é um grande MAS), também muitos outros clubes estavam com salários em atraso e com a corda na garganta no plano financeiro e, mesmo assim, conseguiram evitar a despromoção. Peço pois, em primeiro lugar a muitos dos nossos jogadores, que nalgumas situações me pareceram desmotivados, que coloquem a mão na consciência e que pensem se terão de facto feito tudo para merecerem o apoio e o sacrifício da exemplar massa adepta que tiveram a puxar por eles. Não sou pessoa de causar instabilidade, não gosto de "bota-abaixo" porque entendo que "só quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro", mas não posso deixar de lançar esta acha para a fogueira da reflexão que, doa a quem doer, tem de ser feita. E, finalmente, quero referir que apesar de não duvidar minimamente do grande amor que o Prof. Eduardo Esteves tem pelo Clube, considero que esteve muitíssimo mal ao não ter abandonado o barco mais cedo para poder assim proporcionar a "chicotada psicológica" de que um plantel necessita quando cai num ciclo de maus resultados no último terço da prova. Não se pedia um treinador caro para o substituir, pedia-se alguém CARISMÁTICO para conduzir um grupo de homens, alguém menos acanhado e mais imprevisível, quer em termos de esquema táctico quer de substituições. E, tratando-se de alguém capaz de o fazer durante uns 3 meses, não creio que fosse por aí que as contas do Clube fossem derrapar ainda mais. Pior mesmo é descermos de divisão e perdermos o dinheiro dos patrocínios da LPFP. Por vezes, o barato sai muito caro. Claro que o dinheiro foi uma condicionante, claro que a FPF não teve o mínimo respeito pelo Clube na forma como traçou o calendário da Taça de Portugal. Mas o que é facto é que, mesmo contra clubes fraquíssimos nessa sucessão de jogos para a Taça, o Varzim foi incapaz de fazer uma só exibição convincente. Espero pois que este enorme calvário de treinadores fracos tenha chegado ao fim e se invista um pouco mais no treinador para a próxima época.

Costuma dizer-se que, quando as coisas correm mal, TODOS são culpados. Não concordo. Penso que os adeptos devem ser louvados e, esses sim, mereciam MUITO mais esta época.